(...) Desenfaixaram minhas mãos e pés —
O grande striptease.
Senhoras e senhores,

Eis minhas mãos
Meus joelhos.
Posso ser só pele e osso,

No entanto sou a mesma, idêntica mulher. (...)

sábado, 15 de dezembro de 2012

No ponto

Chegou o momento
A hora certa
O segundo é esse pois o primeiro
Bom
O primeiro foi um fracasso.

Avance.
Um passo;
Um salto;
Um gole;
Um golpe;
Um tiro e
BANG!
Está feito.

Nada mais de lamúrias ao pé da mesa
Nenhum filho será perdido
Nem coração quebrado.

Bonecos de porcelana são tão sutis ao se esfacelar na parede.

Áspero

Eu deveria ter cortado
A grade
Os pulsos
As amarras que me prendem à vida
Eu deveria ter cortado ontem.

Eu deveria ter cortado
Os laços
Os braços
Os vínculos mortíferos que me pedem o que não sou
Eu deveria ter cortado ontem.

Deveria ter pulado
Planado
Peitado a dor fugaz
Deveria ter pulado ontem.

Se tivesse raciocinado mais
Evitaria poemas duros como esse
Hoje.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Andava chorando, hoje não mais.


Ela acordou, mas já era tarde. Oito horas da noite, para ser mais exato.
Vestígios de pensamentos lhe diziam que antes de deitar-se, no dia anterior, tinha resolvido pedir a Deus alguma ajuda, mas terminou por dormir no meio da oração.
Girou na cama e sentiu o corpo doer, “Céus! Como tinha dormido por tanto tempo?”.
Levantou-se, meio tonta, o corpo mais dolorido agora pela mudança brusca de posição; sentou-se na cama e calçou os chinelos.
Um barulho alto a fez dar um pulo no escuro e empurrar com o pé um dos chinelos para baixo da cama: era o celular despertando... Hora da medicação.

- Não sei por quanto tempo ainda vou tomar essas drogas, de nada adiantam. – Enquanto tomava os comprimidos e falava sozinha notou algo estranho na parede logo à frente.

- É só o seu reflexo, criatura estúpida. Agora volte pra cama.

O reflexo no espelho pareceu sorrir na penumbra. O quarto, iluminado apenas pelas luzes externas que chegavam pela janela sem cortina, parecia envolto agora numa névoa estranha.
Parada, ainda com o copo d’água na mão, ela virou-se para o espelho e cuspiu com raiva esperando alguma reação.

Não aconteceu nada.
Feliz com a falta de atitude do seu reflexo deixou o copo no criado mudo e sentou na cama. Estava prestes a deitar-se quando se deu conta de que a sua imagem não cuspira, ou pelo menos foi o que parecera.
Levantando num salto foi para frente do espelho, pendurado na parede de forma a mostrar somente metade do corpo e ficou contemplando seu rosto um longo tempo. Tudo parecia normal. Os movimentos precisos, os lados invertidos...

- Esses remédios estão me deixando louca ao invés de me deixar normal.

Convencida de que não passara de uma alucinação, já ia afastando-se do espelho, quando ouviu um sussurro. Um murmúrio baixo, vindo do ar ao seu redor:

- Há quanto tempo você não chora?

- O quê?

Silêncio.

Ela ouvira bem a frase; a pergunta fora articulada com uma dicção perfeita. Embora o tom da voz fosse baixo, ela entendeu perfeitamente, escutou nitidamente: há quanto tempo não chorava?
Não sabia dizer.
Talvez uma semana? Não. Mais que isso. Muito mais.
Estava triste há dias, meses, sentia-se mal, voltara aos velhos hábitos. Mas antes chorava, e agora não.

Parada no escuro do quarto, ela vasculhou a mente e pôde notar que nas últimas semanas não se sentia só triste, mas era uma tristeza vazia, totalmente sem sentido. Era ausência de qualquer coisa que pudesse estar lá antes. Ela não se lembrava o que estava lá antes. Talvez fosse ela mesma. Não saberia dizer.

O fato era que não chorava. E já tinha um tempo. Um longuíssimo tempo.

- Já... Já faz um tempo. – Hesitante, ela não sabia se alguém responderia ou mesmo se alguém ouviria.

- Você se lembra?

Lembrar? Ela não se lembrava de muita coisa.
Lembrava dos muitos mortos que enterrara ao longo da vida, lembrava dos gritos mudos por atenção que emitia todos os dias, lembrava dessas coisas, mas não devia ser isso, não tinha ligação alguma.

Saiu daquela nostalgia e olhou o reflexo que ainda sorria sutilmente, olhando pra ela, mas não era ela.

- Estou louca não estou? Falando com um espelho sobre coisas sem sentido.

Não houve resposta.

- Acabou então? Se eu não me lembro do que você quer que eu lembre, você não fala comigo? É assim, vai me ignorar? Mesmo eu sendo você.

Ainda silêncio. O reflexo continuava sorrindo.

Pareceu um estalo no meio do seu cérebro, mas foi só a impressão. Ela se lembrava, afinal.
Há quanto tempo não chorava? Há muito tempo, sem dúvidas.
E quando não se chora mais, quando essa capacidade era perdida, justo essa que era a única forma com que conseguia demonstrar suas emoções, então ela sabia que tinha acabado.
Lembrava-se que quando não podia chorar, ela devia morrer.
De um jeito ou de outro, nas outras vezes sobrevivera, mas não tinha certeza se seria assim agora. Nunca falara consigo mesma desse jeito antes.
Mas era isso.

- Sim, me lembro.

Alguns segundos de silêncio. O reflexo abriu um sorriso mais largo. Levando a mão para trás, trouxe uma corda e estendeu para que ela pegasse.
Ela duvidou, mas foi passageiro. Pegou a corda. Não houve efeito especial como no cinema, ou faíscas, foi como pegar algo de outra pessoa de carne e osso.
O reflexo lhe deu mais um sorriso.

- Você sabe como fazer.

E ela sabia. Fez um nó com perfeição, rápida, ágil, sem perder tempo. Pegou a cadeira almofadada do computador e usou para subir e abrir uma pequena portinhola no teto, no canto, perto da janela. Teve que se esforçar para amarrar a corda numa viga, ajeitar o nó... Em quarenta minutos estava tudo pronto.

- Bilhetes suicidas são para os fracos.

Já estava com a “corda no pescoço” literalmente quando viu que o reflexo não estava mais lá, e agora não importava, não queria saber se fora alucinação ou não, só queria acabar com tudo aquilo.
Um pulo.
O escuro e a altura fizeram com que não quebrasse o pescoço, mas que sufocasse até a morte.

Amanhecendo, por volta das sete, uma moça de vinte ou vinte e cinco anos é encontrada morta em sua cama.
Motivo?
Fé.
Uma bíblia foi encontrada embaixo da cama e no pescoço, sua “causa mortis”: um rosário que se enrolara com perfeição fazendo com que ela morresse por asfixia mecânica.
No criado mudo alguns remédios para dormir e uma nota que só dizia:

“Há quanto tempo você não chora?”

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Perdição


Você já se perguntou o que tem do outro lado do espelho?
Se aquela divisória de cabelo escondida por alguns fios é mesmo real ou se é artifício da sua mente frágil e cansada...
Onde está o respirar? O ar? Está no lado “de lá” ou em você?
E você?
Está do lado “de lá”, “de cá”, “no meio”...
Por que é tão difícil fazer a coisa certa quando estamos no lugar errado, mas é invariavelmente fácil fazer a coisa errada em qualquer lugar?

NASOGÁSTRICA
E se arrancassem de você sua paixão?
Se obrigassem a abandoná-la,
Sem mala, roupas ou mantimentos,
Em uma estação de trem qualquer?

E se, além disso, envenenassem-lhe a mente
E lhe fizessem odiarem-na
Com um ódio atemporal
Que você nem sabia ser possível sentir?
Se lhe fizessem desprezar sua obsessão...

O que viria depois?

Depois que você não mais tivesse as emoções
Que a emoção visceral dela lhe dava?
O que viria no seguimento do abandono completo
De sua dedicação de tempo
E alma?

E depois que você se enquadrasse?
Depois que você ficasse de pé,
Sobre os dois pés.
Depois que você amasse até o orgasmo;
Beijasse no segundo encontro;
Odiasse em segredo;
Abafasse seus gritos no travesseiro de madrugada...

O que viria?

A normalidade?
A felicidade?
O equilíbrio? O meio termo?
Viriam os filhos correndo, o reconhecimento pelas pequenas conquistas?

Sim.

Mas as grandes,
As realmente grandes,
As apaixonantes e apaixonadas conquistas
Ficariam na estação de trem onde você abandonou
Espontaneamente
Toda sua exacerbação de caráter.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Extreme


"(...)Ou será que existe algo entre eu e vocês aí fora – seja um ou sejam muitos –, algo que os torne unidos a mim, como as abelhas à rainha? Vocês me sentem, membros de meu corpo espalhado? Escutam minhas palavras inaudíveis, agora ou em qualquer momento? Porventura você procura por fim, meu outro?"


Significado de Extremo

adj. Que está no ponto mais afastado; distante, longínquo, remoto: os extremos confins do império.

Que está no auge, no último grau de intensidade: possuído de extrema angústia.

Derradeiro, último: ouviu-lhe a extrema voz da boca fria.

S.m. O ponto mais distante; extremidade, termo: o extremo de sua fazenda esbarra num rio.

S.m.pl. Carinho excessivo: trata os netos com extremos.

Sinônimos de Extremo

Sinônimo de extremo: afastado, afinal, derradeiro, distante, exagero, excesso, limite, longínquo, mero, ponta, pólo, simples e último.


Venho aqui falar novamente dessa palavra que me persegue: extremo.
Estudando os sinônimos de "extremo", eu vejo que tem muito a ver comigo, como em AFASTADO, que pode muito bem se referir à minha relação com as outras pessoas que vivem ao meu redor. Em DERRADEIRO eu vejo meus pedidos de ajuda, sempre imediatistas e necessários. Em EXCESSO eu vejo meus sentimentos para com tudo a minha volta, todas as situações. Em LIMITE eu posso ler aquilo que falta no meu temperamento explosivo. E em ÚLTIMO posso dizer que é como me sinto na minha vida, de forma geral, como se tudo que eu fizesse fosse a última coisa a se fazer, já sem medo da morte, me entregando para os EXAGEROS sem medir consequências.
Nos extremos é a forma como aprendi a viver, sempre indo de lá pra cá muito rápido, sem parar pra ver se existe meio termo, sem acordo de guerra, sem pensar nas medidas possíveis para viver em paz com a minha consciência.
Pelas lentes que enxergo o mundo, ou se é perfeito ou totalmente errado, ou se é totalmente bondoso ou totalmente maléfico.
Isso me prejudica, eu admito, mas não sei como mudar, e admito isso também, porque já me foram dadas tantas chances de fazer o que é considerado certo, de trabalhar meu lado "morno" sem ficar me queimando ou congelando, e ainda assim permaneço nessa montanha russa de emoções e respostas afetivas.
Já desperdicei a confiança daqueles que me são caros tantas e tantas vezes, que nem sei como é que ainda consigo olhar nos olhos deles e pedir de novo "me ajude, dessa vez eu vou mudar".
Eu não mudo.
Acrescente à um humor deprimido, explosivo, imprevisível, um pouco de história trágica e você terá a receita para a minha vida. Uma sucessão de erros sem medida.
Mesmo assim, essa sou eu, e devo lutar contra meu raciocínio jogador de "oito ou oitenta" para conseguir alguma paz, algum dia...

segunda-feira, 28 de maio de 2012

I rly wanna go home...

O conceito de "casa", ou "lar", é  lugar onde moramos, passamos nosso tempo, e somos acolhidos e bem tratados.
Sentimo-nos bem no nosso lar e por isso sempre voltamos pra ele no fim do dia...
Pois é, pra mim esse conceito não está muito claro. Cada vez mais me sinto desconfortável em casa e me pego pensando em como era bom estar enclausurada, sem responsabilidade quanto aos meus atos, tento que me preocupar somente em escolher o que vou almoçar, quantos cigarros ainda tenho, e se devo mandar minha roupa pra lavar...
Sei lá...
Tem sido dias difíceis...

sábado, 21 de janeiro de 2012

Sabão em pó

Quero dedicar esse post... Não, não.
Que início mais brega! Melhor começar de um jeito mais honesto.
O mundo hoje está branco. O céu, cheio de nuvens carregadas que ficam ali, só ameaçando com seus roncos de motor. As paredes que de repente se tornaram limpas aos meus olhos. A vida que perdeu o caráter sentimental e resignou-se em digitar palavras seguidas dentro de um cômodo com uma única janela e uma única porta.
O branco, geralmente, significa "bom" ou "puro".
Cara, se esse branco é puro, eu lhes digo, é PURA FALTA DE SACANAGEM isso sim!!! Se existe cor pro tédio, é branco. Certeza.

Mas eu estou tentando transformar esse branco naquilo que o branco realmente é, segundo o Disco de Newton, a fusão de todas as cores. Quero que esse branco seja a demonstração de que eu sei colorir tão bem o meu mundo, que mal pode-se enxergar a diferença nos tons.
"Ace todo branco fosse assim!"