(...) Desenfaixaram minhas mãos e pés —
O grande striptease.
Senhoras e senhores,

Eis minhas mãos
Meus joelhos.
Posso ser só pele e osso,

No entanto sou a mesma, idêntica mulher. (...)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

NASOGÁSTRICA



E se arrancassem de você sua paixão?
Se obrigassem a abandoná-la,
Sem mala, roupas ou mantimentos,
Em uma estação de trem qualquer?

E se, além disso, envenenassem-lhe a mente
E lhe fizessem odiarem-na
Com um ódio atemporal
Que você nem sabia ser possível sentir?
Se lhe fizessem desprezar sua obsessão...

O que viria depois?

Depois que você não mais tivesse as emoções
Que a emoção visceral dela lhe dava?
O que viria no seguimento do abandono completo
De sua dedicação de tempo
E alma?

E depois que você se enquadrasse?
Depois que você ficasse de pé,
Sobre os dois pés.
Depois que você amasse até o orgasmo;
Beijasse no segundo encontro;
Odiasse em segredo;
Abafasse seus gritos no travesseiro de madrugada...

O que viria?

A normalidade?
A felicidade?
O equilíbrio? O meio termo?
Viriam os filhos correndo, o reconhecimento pelas pequenas conquistas?

Sim.

Mas as grandes,
As realmente grandes,
As apaixonantes e apaixonadas conquistas
Ficariam na estação de trem onde você abandonou
Espontaneamente
Toda sua exacerbação de caráter.

MEU BLOG EM NÚMEROS

Hoje, ao olhar pela primeira vez com vontade, as estatísticas do blog, eu encontrei ISSO: 
PS.: De onde surgiu essa gente da Rússia?
PSS.: Essa galera da Coréia e da Holanda entende alguma coisa que está escrita aqui? TÁ TUDO EM PORTUGUÊS XENTEM!
PSSS.: "holisticamente" bomba ein!
PSSSS.: Beijos, me liguem.


ESTATÍSTICAS DO BLOG NO MUNDO


Brasil                            1.382

Estados Unidos              120


Holanda                          48


Portugal                         16


Coréia do Sul                 15


Suíça                              13


Filipinas                          11 


França                              9


Canadá                             7


Rússia                               4


Pesquisar palavras-chave
holisticamente
"poetas da esquina"
holisticamente falando
léxico absurdo 

quarta-feira, 20 de abril de 2011

UMA MORDIDA DE CACHORRO

Os meus olhos pastosos,
castanhos,
invasivos,
procuraram um lugar sem luz para repousar.
Encontraram suas mãos brancas,
brilhantes,
nevadas,
e infartaram por ver tanta luminosidade a ofertar.

Nem aquela velha pausa estava lá para amenizar...

terça-feira, 19 de abril de 2011

quinta-feira, 14 de abril de 2011

GARRAS, GATOS, GOTAS

responda só um oi
depois um tchau.
você não disse que eu faço as coisas pra serem interpretadas? interprete como PRECISO DE AJUDA, droga, isso é terrível.
acho que nunca disse isso. pra você pelo menos. disse?
responda só um oi
depois um tchau.
pra eu saber que não pingo no vazio.


segunda-feira, 11 de abril de 2011

EU ESTAVA LÁ



Eu estava lá mas você não viu
Tá fazendo frio nesse lugar
Onde eu já não caibo mais

Como se começa uma carta assim? Eu não faço a mínima idéia.
Sim, claro que já escrevi dezenas dessas, mas, obviamente como pode ver, nenhuma foi definitiva, o que as distingue desta aqui, e a torna extremamente diferente... Especial...
            Eu também sinto algo diferente nesse início: quero me estender indefinidamente. Quero a carta mais longa, cansativa e completa que puder escrever.
            Por quê?
            Oras, eu que sempre defendi a máxima “bilhetes suicidas são para os fracos” chego a conclusão de que eles REALMENTE são para os fracos, e isso é ótimo pois mostra que eu estava certa. Você deixa bilhetes para transferir a sua dor de alguma forma, para culpar, pelo menos um pouco, outra pessoa (talvez assim você não vá para o inferno, se a culpa for de outro), para causar remorso, sofrimento, etc. Deixa escrito ali que “Sofia, me matei porque você trepou com meu melhor amigo!” e a tal Sofia vai passar dias se culpando por ter tido o melhor sexo da vida dela. O que, na minha humilde e morta opinião, não é lá muito correto.
            Mas então, por que raios eu estou escrevendo?
            ÓBVIO! Primeiro porque EU QUERO e vocês não têm nada com isso. Segundo porque eu sou escritora (a última Trakinas do supermercado) e escritor que se preze deve escrever até o ultimo lapso de Mal de Parkinson. Digo isso porque sempre achei que Mal de Parkinson era ser a pior coisa que poderia acontecer na vida de um escritor, até descobrir a grafomania...
            Mas como eu ía dizendo, eu escrevo essa carta/bilhete não porque eu seja fraca (posso ser, mas não vou admitir nunca), mas porque eu quero deixar alguém culpado. Isso mesmo, só de “zoeira”. Deixar algum ser inferior desprovido da capacidade intelectual peculiar que eu desenvolvi (UI!) como sendo o autor desse sociecídio. Não autor do disparo, ou o cara que me empurrou da janela, mas, ah! Vocês entenderam...
            E o sorteado de hoje é: VOCÊ!
            Isso mesmo, você! Que está aí, lendo essa carta fabulosamente escrita e meticulosamente planejada.
            Você me matou e deve, tem o dever de, saber que foi por sua causa que pulei do décimo - quinto; que disparei contra a têmpora direita com uma pistola calibre trinta e oito; que cortei a artéria radial no pulso esquerdo e rasguei a garganta com um serrote (essa foi trash). Foi por sua culpa, sua única culpa, que eu estou falando agora assim, por intermédio desta carta, do além túmulo.
            Então, o que acha?
            Eu não estou sendo má com você, estou sendo sincera. Convenhamos que você não me deu a atenção que eu merecia e menos ainda a que eu queria! E nada mais justo que fazê-lo pagar por isso.
            Mas eu, sendo uma pobre alma bondosa, não posso matá-lo, esquartejá-lo, queimá-lo e espalhar suas cinzas em um terreiro de Umbanda. O que fazer então? Chorar? Eu não choro mais.
            Sobra essa alternativa bem “alternativa”.
            Sobra o fazer o MAL sem olhar a quem.
            Sobra o suicídio. E o bilhete, claro, para deixar bem explícito que não foi porque eu quis, mas sim porque eu não pude viver com a falsa sensação de que tinha alguém do meu lado, e quando olhava pra conferir só via minha sombra.
            Sabe. De certa forma estou dando o troco. Pelas inúmeras vezes que você me abandonou. Pelas vezes em que eu pedi um abraço, ou um beijo e recebi um espaço vago na cama, um lugar a mais na mesa do café, um ingresso a menos no teatro e cinema. Por todos os risos negados e os apagados, e pelas lágrimas que você não viu, e também aquelas que viu e fingiu que eram de alegria dizendo “Hey, a vida é azul!” sabendo que eu gostava de verde e vermelho.
            Pelo café com gosto de chá, e pelo chá sem gosto algum.
            Pelo sexo semanal, animal, que me podia satisfazer, mas que só me fazia ver o quanto eu gostava de estar com você e o quanto você não precisava estar comigo. E isso me matava.
            E por essas coisas, que eu nunca recebi, pelos presentes que não abri nem abrirei no Natal. Eu só quero deixar bem claro que foi por isso. Foi por sua culpa.
            Pela imensa importância que você deu à minha alimentação, esquecendo-se de perguntar sobre os meus sentimentos.
            Pela imensa importância que deu aos meus erros fechando os olhos para as poucas, mas grandes vitórias da minha vida.
            Pela sua falta de tempo, de sensatez, de embriaguez e “humour”; e pelo excesso de razão, ausência e prudência.
            No fundo só lhe faltou ser um pouco louco para entender tudo, talvez não mudasse o desenrolar da história, porém você não seria tão culpado.
           
            E você nem precisa me dar atenção, eu estou morta mesmo. Enterrada nesta fria cova, ou cremada uniformemente em um potinho na sala da minha casa. Da nossa casa. Você nem precisa ler tudo isso se não quiser. Caso leia, pode decidir não levar em consideração e me desejar boas férias no inferno. Ainda assim a culpa é sua. Toda sua. Unicamente sua. Deixo-a em testamento exclusivamente para você. É meu único bem, e não te quero mal, por isso, cuide-a.

            Mas, cá entre nós, de onde eu tirei que os mortos falam?
            Eu espero que você tenha uma vida longa e feliz.
            E não se esqueça de mim.
            Ou se esqueça, tanto faz.
            Eu, com toda absoluta certeza, já me esqueci de você.

domingo, 10 de abril de 2011

PONTINHOS

Perdi o fio da meada
E encontrei o fio da navalha.

Firme, forte e belo.

Fio vermelho que se estende como fita de sapatilha.
A dança é tão rica em possibilidades...

sábado, 9 de abril de 2011

SALOMÃO



Minha avó fazia doces. Geléias, e todo tipo de coisas em conserva. Era uma pessoa boa, daquelas que se pode chamar de boa em tempo integral, não levantava a voz nem quando brigava comigo.
Mais tarde ela me disse que não gritava porque tinha um problema nas cordas vocais, e mais tarde ainda descobrimos que esse “problema nas cordas vocais” era um câncer, que, muito mais tarde veio a ser a causa da sua morte.
Mas tudo bem. As pessoas morrem, é o que eu acho, sem drama.
Não sou nostálgico e não gosto de falar da minha infância, a bem da verdade, não gosto de uma porção de coisas, mas vou ser bem egoísta e falar de mim aqui.
As primeiras lembranças que me vêm à cabeça são, deixe-me ver, eu pedi um tênis com luzes nos lados, que acendiam conforme você andava, eu achei aquele tênis a coisa mais incrível do mundo! Infelizmente a minha avó não achou e me comprou um cachorro.
Eu adorei! Que se danasse o tênis! Eu tinha um cachorro! Na primeira semana o chamei de Bob, na segunda chamei de Bilis, como aquela gosma produzida no fígado, pâncreas, ou sei lá que órgão do sistema digestivo. Na terceira semana eu o chamava de Sal.
A essa altura Teresa (minha avó) dizia que o cachorro devia ter algum problema de personalidade e nem sabia quem era de tantos nomes que eu havia lhe dado, mas Sal ficou com esse nome até morrer atropelado no mês seguinte.
Eu mesmo o enterrei e como tinha sido partido ao meio, eu decidi que seria bacana fazer um enterro para cada nome, então o parti em mais uma parte e fiz três covas.
Aqui jaz Bob.
Aqui jaz Bilis.
Aqui jaz Sal.
Minha avó quase enfartou, nem preciso dizer, preciso?
No colégio as coisas pareciam iguais, não me ignoravam, mas pareciam me olhar como se eu tivesse Ebola e pudesse matá-los se espirrasse na sala de aula. Eu não me importava muito, às vezes sim, mas na maioria não.
Minha avó já tinha me contado sobre minha mãe, sobre como ela tinha ido embora sem nada além da roupa do corpo e me deixado com ela. Eu aceitei bem, como não a conhecia, não podia odiá-la, nem querer que algo de mal acontecesse.
As coisas eram como sempre foram.
Até o verão em que minha avó faleceu, foi cedo, eu tinha 16 anos e eram 9 horas da manhã.
Naquele verão eu comecei a “aprender” a me virar. Alguém tinha que pagar as contas, limpar a casa, comprar comida... E esse alguém, agora, era eu. Com meus 16 anos de idade eu administrava a casa e decidi que usar as mesmas roupas não combinava mais comigo.
Ainda tinha umas caixas de bugigangas da casa antiga, e resolvi remexê-las antes de voltar para o colégio. Fotos velhas, brinquedos, candelabros... Uma corrente que eu usava para prender o, como era o nome do cachorro esquartejado mesmo? Bilie? Achei que era isso.
Peguei a corrente e prendi na calça no primeiro dia de aula do novo ano, agora eu era o cara mal que morava sozinho.
Se já me evitavam porque eu tinha “doenças imaginárias” imagine o que meu cabelo grande e desgrenhado e uma corrente na calça jeans não faria?
Ah, essa era minha forra... Um novo Salomão estava nascendo, e todos o chamavam de Manny. Menos um cara, um cara que de tão normal era estranho. E de tão pacato, acanhado, tão, não sei, “médio”, me chamou a atenção.
Ele me chamava de Sal.
O Dimitri não entende porque gostei tanto do fato dele ter me chamado de Sal, e eu não me preocupo em explicar a ele que foi só porque ele me lembrou do nome do meu cachorro. Naquela época, lembrar o nome certo do meu cachorro me parecia algo muito importante, e vindo dele me fez promovê-lo ao posto de melhor amigo imediatamente.
Posto este, que ele nunca abandonou.

sábado, 2 de abril de 2011

Fragmento de outro blog...


— Você vai querer café?
Aquele dia foi um dia estranho. O mundo estava menor e o tempo estava parado e as
horas passavam rápido demais sempre.
— Você quer café?
Ela vinha agindo diferente. Ela já não tinha mais aquela velha aparência jovial. Seu rosto era duro e sem curiosidade. Ela já teve cheiro de hortelã.
— Sim, por favor. Com bastante açúcar.
Café para mim tem gosto amargo. Café tem gosto de funeral. Café era o que nos mantinha a sanidade e os níveis de ansiedade baixos quando morria alguém de nossa família. Era para nos manter acordados, já que o que mais queríamos era poder deitar e relaxar e saber que quando acordássemos tudo estaria bem.
— Precisamos conversar.
Ela sabia tão bem quanto eu que eu não gosto de café. Ela não vinha prestando atenção no que eu dizia. Estávamos distantes. Ela estava distante.
Ela se sentou bem perto. Ela me olhava na alma. Não me reconheci no reflexo em seus olhos. Ela me via como um monstro. Ela tinha mudado muito desde que nos encontramos pela primeira vez.
— Estou indo embora.
O café que ela tinha preparado estava bastante amargo, mais que o usual. Ela não tinha prestado atenção quando lhe pedi bem doce.
— Acabou o açúcar?

"Je vous conseille vivement" a ler esse link e descobrir a que sub-realidade dessas nossas vidas 
tão pacatas pode ser muito mais do que tomar um café amargo de pessoas queridas que 
não prestam mais atenção quando pedimos açúcar (ou adoçante).

Por Willian Pinheiro